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Itapetinga

Crônica Covid: Parte 12 – Saudade

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Por Gessé Macedo

A pandemia ainda não acabou, mas já fez muitas pessoas sentirem saudades das aglomerações da velha rotina e, principalmente, das vidas perdidas. Assim, segundo a psicologia, saudade é a falta que o indivíduo sente de alguém, algum objeto ou situação. Lembranças de sensações prazerosas.

Nesse sentido, o tempo da saudade é indeterminado, segue o curso e a imprevisibilidade da vida. Pode até passar muitos anos que as boas recordações persistem. Consta que esse sentimento é proporcional ao amor, decorre das dores de rupturas, busca preencher o vazio do desânimo, uma espécie de autoterapia proveniente de cargas emocionais individuais.

Saudade de sentir o carinho divino na forma de brisa nas sombras das árvores, de visitar o Parque Zoobotânico, lugar de encontros e inícios de muitos relacionamentos. Como era bom admirar as belezas naturais da fauna e flora da Mata Atlântica, contemplar a alegria das crianças brincando junto ao verde, andar nas trilhas e sobre a velha ponte de madeira, apreciar as obras dos artistas nos diferentes pontos do Parque, e, lógico, degustar os lanches vendidos nos carrinhos das mulheres guerreiras que ficavam perto do portão de entrada, pipocas, doces e sucos no “sacolé”. Até a volta para casa andando a pé ou nos coletivos lotados era divertida. Muitas vezes a felicidade está nas ações mais simples.

Saudade do tempo de escola, interrompido pela pandemia e pelas novas rotinas, das lições de vida da Educadora Maria Sampaio, Diretora por muitos anos da Escola Maria Amélia Menezes dos Santos, a quem aqui fica a homenagem que se estende a todas e todos educadores. Do Complexo Escolar Polivalente de Itapetinga, considerado por muitos alunos como uma espécie de primeira faculdade, de ensino diversificado e quase integral, com aulas complementares no turno oposto, de Educação Física – Professores Wdson e Wallace, Artes Industriais – Professor Dedinho, Técnicas Agrícolas – Professora Eloá, Educação para o Lar – Saudosa Professora Mavione Macedo, Técnicas Comerciais, e, Artes – ministrada pela maestrina Professora Leniza do Coral Canto das Artes. Da excelência e inovação do Colégio Modelo – LEM. Escolas Públicas de ensinos infinitos para os eternos aprendizes.
No seio familiar, geralmente a força da saudade é mais intensa. A ausência do ente no lugar à mesa retrata as dificuldades para superar a falta. Quando os idosos saem de cena é difícil, mas seguem o curso natural; entretanto, diante das perdas de jovens filhos e crianças, as reações podem ser devastadoras. Ainda pior, quando acontecem dentro de pouco espaço de tempo, alguns casos quase simultâneos, famílias inteiras destruídas pela Covid-19.
Saudade, hoje, também mora na pacata cidade de Saudades-SC, resultado de uma tragédia inexplicável, sem justificativa, três bebês e duas educadoras foram arrancadas da constelação de uma Creche, lindas estrelas que continuam brilhando no céu.

Então, diante das mais de 430 mil pessoas mortas, entre pais e filhos, a mãe vida é uma grande peça, fruto do mosaico familiar, intensa, repleta de surpresas, decepções, fé e afetos. Intimidades de múltiplas faces e de dores, todas remediadas por orações. Porque, até os líderes e ídolos desaparecem, uma vez que nada é mais forte que a força e resistência da natureza, salvo o próprio criador.

Saudade é emoção que não cabe no corpo, livre de tempo e espaço, ato de reescrever a história superando os erros, recordações de músicas e milagres dos anjos. Memórias dos melhores momentos da intensa vontade de realizar os sonhos, vencer. Portanto, já dizia o saudoso mestre Luiz Gonzaga: “Saudade, o remédio é cantar”.

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